2025-05-28 IDOPRESS
Marina Silva e Plínio Valério durante bate-boca em comissão do Senado — Foto: Agência Senado e reprodução
GERADO EM: 27/05/2025 - 19:26
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
A Bancada Feminina do Senado se manifestou em solidariedade à ministra do Meio Ambiente,após embates com senadores durante sessão da Comissão de Infraestrutura da Casa,nesta terça-feira. O comunicado ressalta que a ministra foi repetidamente interrompida,teve seu microfone cortado e foi impedida de responder a acusações,em uma violação ao regimento Senado,que assegura o direito à tréplica. A nota da bancada,entretanto,não cita o senador Plínio Valério (PSDB-AM),que iniciou o conflito com a ministra,depois de dizer que não a respeitava enquanto mulher.
A nota diz que o episódio revela uma tentativa explícita de silenciamento de uma mulher em espaço de poder,traduzida nas frases de parlamentares que disseram que a ministra deveria “se colocar no seu lugar”.
"Ficou evidente que,naquela sessão,a última palavra precisava ser a de um homem Nós sabemos,e reafirmamos: lugar de mulher é onde ela quiser",diz o comunicado.
Autor de ofensas contra a ministra do Meio Ambiente,o senador Plínio Valério (PSDB-AM) acumula embates com ambientalistas em sua atuação no Congresso. Presidente da CPI das ONGs,o parlamentar assumiu nos últimos anos o papel de principal adversário de organizações que atuam na Amazônia. Marina deixou o colegiado após Valério dizer que separava a mulher da ministra porque a primeira merecia respeito e a segunda,não. A ministra disse que só continuaria na comissão se houvesse um pedido de desculpas. Ele se recusou a fazê-lo.
Em março,Plínio já havia dito ter vontade de enforcar Marina em um evento público da Fecomércio do Amazonas.
A ministra citou ainda os embates sobre a nova Lei de Licenciamento Ambiental,aprovada pelo Senado na última semana,e que não poderia ter tido outra atitude que não fosse deixar a comissão.
— Ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra,eu não poderia ter outra atitude. Ele é uma pessoa que disse que da outra vez que eu vim aqui como convidada foi muito difícil para ele ficar 6 horas e dez comigo sem me enforcar,e hoje veio de novo para me agredir…. Além de pessoas que atribuem a mim responsabilidade que são deles. Dizer que a demolição da legislação ambiental praticada pelo Senado,com relatório aprovado,é responsabilidade minha é não querer honrar o voto que os elegeu. Quem tem mandato de Senador e deputado vota pelas convicções que tem,não porque alguém obrigou.
Ao sair da comissão,Marina entrou em uma reunião com o presidente da Câmara,Hugo Motta (Republicanos-PB),para tratar sobre o projeto de licença ambiental que agora será debatido pela Câmara.
Ela afirmou ter sido vítima de violência política de gênero e que avalia medidas jurídicas contra o senador Plínio.
— Com certeza isso acontece com a gente [mulheres] o tempo todo. Eu me senti agredida fazendo o meu trabalho. […] A gente sempre tem de avaliar o que é nosso direito e não abrir mão do nosso direito. A manifestação do senador,que disse que é muito difícil não me enforcar,eu já estava avaliando a situação com os meus advogados. Ele agravou a situação.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) foi um dos poucos senadores a defender a ministra no microfone durante o bate-boca:
— O debate político pode ser caloroso com divergência. Agora,manifestação de desrespeito é inaceitável. Quando alguém começa um debate dizendo que respeita a mulher,mas não respeita a ministra,isso não cabe em um debate institucional.
Após o encontro com Motta,Marina afirmou que pediu ao presidente da Câmara que o projeto de licenciamento ambiental seja analisado com calma e que setores sejam ouvidos ao longo da tramitação. O parlamentar sinalizou que vai conhecer a matéria e realizar diálogos antes de tomar uma decisão.
— Ontem entrei em contato com o presidente Hugo Motta para pedir audiência a fim de que esse relatório aprovado no Senado,que não foi debatido,para que tenha o tempo necessário de debate e conhecimento dos diferentes setores da sociedade. Para que haja o tempo necessário da democracia e transparência do que está sendo votado sobre o licenciamento ambiental,que ha décadas conseguiu se firmar e infelizmente agora está sendo amputado em relação a questões estratégicas,como a diminuição do papel dos órgãos colegiados,como o Ibama.